Imagine viajar cerca de 300 KM ou 800 KM, do interior da Bahia para Salvador, com o objetivo de Salvar vidas, entregar o paciente nos hospitais, em seguida, não ter onde ficar para descansar e depois pegar a estrada de volta para casa. Essa situação é vivida por inúmeros condutores de emergência. A categoria reclama que precisa receber atenção do governo do estado e das prefeituras e quem passa pelo galpão da Centro de Abastecimento do Ogunjá, em Salvador, se depara com o constrangimento: condutores dormindo e até lanchando dentro dos carros. Essa cena além de transtornar esses guerreiros profissionais do volante, expõe a classe que clama por um local digno para restabelecer as energias e assim, voltar em segurança com o paciente.
Silas de Andrade faz cerca de 10 viagens por mês, dirigindo ambulância, para transportar pacientes de Aratuípe, cidade localizada a cerca de 84 km, via BA-001. “Depois de uma viagem cansativa a gente fica com medo por causa dos assaltos e alguns colegas já foram vítimas dos bandidos”, reflete. Além de não ter um local adequado no Ogunjá, os condutores de ambulância e os que transportam passageiros para Tratamento Fora do Domicílio – TFD disputam vaga com carros de passeio e veículos de grande porte. “A nossa sorte é que algumas pessoas nos abraçaram aqui no Ogunjá e assim não ficamos em total relento”, encerra o motorista.
Outro insatisfeito com a forma em que a categoria está sendo tratada em Salvador, é o motorista de ambulância Carlos Macedo. Pato Roco, como é conhecido, afirma que para trabalhar depende da conscientização dos agentes da Transalvador. “Eles nos perseguem no Hospital da Mulher, no Largo de Roma, na frente do Hospital Aristides Maltez em Brotas e na Rua Carlos Gomes. Não temos onde estacionar para esperar o paciente e os fiscais já chegam multando: assim fica difícil”, disse. Pato Roco defende que as prefeituras devem se reunir com representantes do governo do estado e implantar pontos de apoio, em Salvador e nas estradas, para esses profissionais.
Os condutores de ambulância e TFD’s ainda reclamam também da forma em que são tratados por fiscais do sistema Ferry Boat. De acordo com eles, a lei permite a prioridade no embarque para esses tipos de veículos e nas embarcações isso não é respeitado. “Eles tem a capacidade de colocar os nossos carros para viajar no sol e o paciente tem que suportar isso, numa viagem desgastante de até uma hora e meia”, encerra Pato Roco que é vice-presidente do Grupo Anjos do Sertão. Como a Bahia tem 417 municípios, são diversos grupos representando a categoria e todos com o mesmo objetivo: a melhoria para os profissionais.
Com a mesma linha de pensamento está Elizeu Rosário, presidente do Grupo Anjos do Sertão e motorista de ambulância da cidade de Ipecaetá, a cerca de 185 Km da capital baiana. O jovem, condutor, faz aproximadamente 20 viagens por mês e sempre passa por sufoco.”Nós não temos casa de apoio, não temos um lugar digno para estacionar e só aqui no Ogunjá, onde 50 ambulâncias são estacionadas todos os dias, é que encontramos um pouco de liberdade”, afirma.
Foto: Noel Tavares