O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, deu início a fase para credenciamento do Serviço de Atenção Especializada à Saúde Indígena do sul da Bahia junto ao Ministério da Saúde. Uma equipe técnica do hospital já trabalha na construção do Plano de Ação que visa atender mulheres gestantes de alto risco, bebês e crianças destas comunidades da região. Ontem (09), diretoras do hospital estiveram reunidas com representantes da etnia Tupinambá, de Olivença, da Secretaria de Atenção Indígena (SESAI), órgão do Ministério da Saúde que se responsabiliza pela habilitação dos hospitais para atendimento de população indígena, e integrantes da Divisão de Atenção à Saúde Indígena do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia, que tem sede em Salvador e que cuida de todos os povos em território estadual. “É uma aproximação para que as mulheres indígenas também se reconheçam neste espaço”, explica Távila Guimarães, chefe da Divisão de Atenção à Saúde Indígena na Bahia.
A região de Ilhéus possui uma população indígena estimada em oito mil habitantes. E o Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, a única maternidade 100% SUS no sul da Bahia, se prepara para ser, também, um lugar de acolhimento e atendimento à comunidade indígena, ofertando um cuidado com práticas interculturais, respeitando a tradição dos povos indígenas. “O que queremos é que elas se sintam mais seguras, fortalecidas estando aqui. A cura não vem só da internação e do remédio. Vem, também, de quando você fortalece sua própria identidade. E muitas vezes tudo o que te cerca, todo esse cuidado, também contribui com a cura de uma criança ou de uma mulher grávida”, explica a diretora médica da instituição, doutora Esther Vilela. Este encontro com representações de etnias e de instituições que representam as comunidades – completa a médica -, tem o objetivo de identificar e conhecer melhor as práticas dos povos e atendê-los.
Aprendizados
De acordo com a diretora-geral, a psicóloga Aline Costa, a missão do hospital é receber estas populações, mas não só com a racionalidade médica. “Isso vai exigir da gente um deslocamento de como a gente pode ver o outro e de como podemos aprender outras culturas”, destaca. Segundo a direção, o hospital precisa, por exemplo, ter uma área aberta adaptada para que as mulheres indígenas e parentes possam ficar. “Uma pessoa aldeiada não é acostumada ao ar condicionado, por exemplo. Temos que encontrar condições que as remetam às suas raízes culturais e que não se sintam tão deslocadas”, assegura.
A proposta é de composição de quartos temáticos, com alusão aos utensílios próprios, as coisas que são da cultura indigenista. O projeto perpassa ainda pela capacitação de uma equipe multidisciplinar que pense melhor desde a forma de acolhimento até a alimentação. “Mandioca, mas é mandioca sem sal. A farinha, mas é uma farinha mais fermentada. Para isso serão necessárias estas reuniões com eles”, assegura doutora Esther. “A passagem pelo hospital tem que potencializar o cuidado intercultural”, reforça.
Parto Seguro
As diretoras da unidade hospitalar explicam que a proposta do projeto não é atrair para o hospital as mulheres indígenas fortes, saudáveis, que podem parir em seu próprio ambiente comunitário, social. Mas oferecer condições humanizadas, respeitando as características culturais de um povo, às mulheres que precisam de um parto hospitalar. “A gente tem que fortalecer o parto domiciliar nas culturas aonde isso ainda é forte. E quando ele é planejado, quando está dentro das boas condições, ele também pode ser seguro”, afirma a médica Esther Vilela. Para isso, a equipe técnica do hospital vai dialogar com as parteiras indígenas. “Temos que sair dos muros do hospital. O que precisamos é ser retaguarda em necessidade de transferência e para as que precisarem de um cuidado hospitalar, que também elas tenham esse conforto e essa adequação”, completa a médica.
Segundo os técnicos que visitaram o hospital materno-infantil, a proposta é que com a habilitação deste serviço especializado, o HMIJS seja inserido no programa federal de Incentivo para Atenção à População Indígena (IAPI), que visa adaptar o hospital para questões culturais e práticas compartilhadas de cuidado. Durante a visita às instalações do HMIJS, a representante do SESAI em Brasília, Alexandra Galvão, elogiou a estrutura do hospital e o seu modelo de funcionamento, “desde as condições de higienização, passando pela organização de serviços e do modelo acolhedor no atendimento às mulheres e aos bebês”, destaca. “A ideia é que, nesta fase do debate, se amplie o diálogo com as comunidades. Como é uma unidade hospitalar nova está sendo intensificado este diálogo para que esse lugar acolha de uma forma mais preparada estas mulheres”, completa a indigenista Távila Guimarães.
Foto: Camila Souza/GOVBA