No mês da campanha contra o câncer de próstata, psicóloga explica a razão dos homens ainda se cuidarem menos
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o homem brasileiro vive em média cinco anos a menos que a mulher. Em pesquisa feita neste ano de 2022, o Instituto relatou que a expectativa de vida do homem brasileiro ao nascer é de 72 anos, enquanto a das mulheres é de 79 anos. Esse cenário é reflexo da falta de conhecimento, preconceitos e muitas vezes medo da população masculina que carrega a maior taxa de mortalidade da população.
No mês da Campanha Novembro Azul, focada em incentivar os homens a realizarem exames preventivos como combate ao câncer de próstata, a ação encontra como maior dificuldade a falta de cuidado que os homens têm com a própria saúde. “Para que esse cenário mude, faz-se necessário uma transformação cultural, já que, socialmente, os homens relacionam a ideia de buscar médico/tratamento com a ideia de fraqueza ou vulnerabilidade. E eles evitam situações assim. É como se acreditassem que a saúde sempre está ok. E esse aspecto, inclusive, faz com que eles só procurem atendimento quando a doença já está avançada”, explica a coordenadora do curso de Psicologia da UNINASSAU Salvador, Helen Copque.
Helen destaca também que a falta de autocuidado dos homens é resultado da falta de incentivo com o cuidado com a saúde desde que ainda são crianças. “A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) diz que 30% das meninas, entre 12 e 18 anos, já realizam acompanhamento com médicos, enquanto apenas 1% dos meninos, da mesma idade, fazem o mesmo. Isso é resultado de um comportamento social histórico que não ensina os meninos a buscar autocuidado e prevenção, enquanto as meninas são socialmente engajadas, desde pequenas, em comportamentos de cuidado de si e também com o outro”, destaca.
Ainda sobre o Novembro Azul, a psicóloga explica sobre a conhecida repulsa dos homens com o exame de toque, que é o meio principal de diagnóstico do câncer de próstata. “Na verdade, qualquer situação de muita intimidade é temida pelos homens, em grande parte por preconceito e falta de conhecimento. No caso do exame de toque, ainda se criou uma ligação com a homossexualidade, o que além de bastante preconceituoso, é também mais uma forma de afastar o homem do autocuidado por acreditar que o seu papel é reafirmar a ideia geral masculinidade a qualquer custo”, ressalta.
Para Helen, um dos caminhos para mudar este contexto deve ser focado em diálogo e incentivo. “No âmbito público e coletivo, as instituições de saúde podem planejar e ofertar serviços de atenção à saúde masculina, levando em conta as especificidades dessa população. No âmbito privado e individual, as mulheres podem falar sobre a importância da prevenção e dos cuidados à saúde para os homens da família e amigos”, explica.
“Outro caminho indispensável é a psicoterapia, que ajuda no desenvolvimento do autocuidado, trazendo conhecimento sobre a importância de cuidar da própria saúde, combatendo a noção de masculinidade em que o homem é forte e capaz de lidar/enfrentar tudo sozinho e calado, passando por cima de suas emoções. O terapeuta também pode incentivar o paciente masculino a entender que ter uma rotina de autocuidado significa manter-se vinculado a estratégias que previnem adoecimento constante e promovem o diagnóstico e tratamento precoce de doenças, prolongando a expectativa de vida com qualidade”, conclui.
Ascom: UNINASSAU/Salvador
Foto: Noel Tavares