O clima do Carnaval tomou conta do Caps II Garcia – Ufba na tarde da terça-feira (6), com a apresentação da Banda Caps, formada por funcionários e pacientes da rede. O pátio da instituição, na Rua Leovigildo Filgueiras, foi preenchido por cores diversas, confetes, música e alegria. Funcionários e pacientes se revezaram entre os instrumentos e o microfone, cantando sucessos da axé music como “Faraó”, “Circulou” e “Vai Sacudir, Vai Abalar”, entre muitos outros.
Oficineiro do Caps AD Pernambués e coordenador da banda, Gustavo Mesquita contou que o grupo surgiu como uma oficina na unidade e, com o tempo, foram expandindo as apresentações para outros espaços. “Hoje nós temos músicas autorais dos próprios integrantes. Já nos apresentamos também em teatros e praças e, onde somos convidados, temos esse respaldo de levar a arte e a alegria, que é o que mais buscamos nas apresentações, nós vamos”, disse.
Enquanto tocava, a banda chamava a atenção de quem passava pela frente da instituição, que parava para assistir à apresentação. Paramentado com um chapéu do Olodum, Felipe de Azevedo, de 42 anos, tocava surdo e dava ritmo às canções. “Quando você está no meio de muita gente, em comunicação, o humor e a sensação de bem-estar melhoram muito. A música traz muito isso: a interatividade entre as pessoas. Eu me sinto muito melhor fazendo parte da banda. Não tem nem como comparar”, relatou.
Na banda desde a formação, o paciente Lourival Damião, 64 anos, tocou pandeiro e também se enfeitou, mas com uma grande chupeta pendurada no pescoço. “Gosto muito de participar, me sinto muito bem. Quando eu cheguei no Caps, me sentia como uma pessoa escondida pelo mundo e me dei muito bem aqui, sigo um tratamento muito, muito bom e me recuperei bastante”, revelou.
Já a paciente Márcia Nascimento, 53 anos, cantou “Vai Sacudir, Vai Abalar”, música interpretada por Cheiro de Amor e com a composição de Pierre Onassis. “Eu gosto muito dessa música e cantar para mim é um momento muito especial. Eu estou gostando muito desse investimento nas oficinas e estou achando muito legal esse momento do Carnaval”, afirmou ela, acompanhada da mãe.
Para a enfermeira Ana Carolina Ventura, que também fica na organização da banda, e fez questão de se fantasiar com saia e passadeira coloridas e muito glitter, a proposta é justamente promover a participação dos usuários enquanto músicos e artistas para que eles saiam de um lugar de usuário de drogas e de outras substâncias, para vir para um lugar de artista, um lugar de referência. “A ideia é que este seja um lugar onde eles estão experimentando outras coisas. A música e a arte proporcionam isso. Por isso, somos defensores da arte e da cultura dentro da saúde, porque são ferramentas superpotentes de cuidado e de reabilitação”.
“Muitas vezes, eles foram vistos de cima para baixo, e quando eles estão no palco, eles que estão em cima. Então, é uma mudança que a música propicia. A alegria é tão contagiante, que às vezes as pessoas estão assistindo e pedem para participar e é muito legal. Já houve um momento, por exemplo, em que as crianças pediram autógrafo para eles após a apresentação”, complementa Gustavo.
Interação – Segundo o psicólogo Clériston Costa, que atua no Caps II Garcia – Ufba, atividades coletivas como essas se propõem a promover cidadania, direitos e a fazer com que as pessoas resgatem sua autonomia possível e o seu nível de interação social possível.
“Tem gente aqui que nem fala, mas se expressa com o corpo. Muitas vezes, numa festa como essa, a gente tem a chance de colocá-los em relação uns com os outros, de trazer familiares, pessoas da comunidade e de interação, inclusive com os próprios funcionários. Um detalhe importante é que, dentro da lógica da atenção psicossocial, a saúde do trabalhador precisa fazer parte também, pois é um indicador de um bom funcionamento do serviço. Então, os Caps, nesse sentido, promovem também a saúde dos trabalhadores”, opinou.
Para o gestor da unidade, Diego Conrado, a apresentação da banda foi uma experiência maravilhosa. “Fico feliz em ver a alegria e diversão das pessoas aqui. Os trabalhadores são muito engajados e empenhados para fazer essa festa maravilhosa, que contribui sobremaneira para o bem-estar dos pacientes e funcionam como espaços terapêuticos para eles”, finalizou.
Secom: PMS
Foto: Otávio Santos/Secom PMS